
A INVISIBILIDADE QUE OS MÚSICOS DE RUA ENFRENTAM NA CAPITAL FEDERAL
Por:Bruno Medeiros Soares , Jaqueliny Sampaio Botelho , Karina da Silva Glória e Willian Matos Ferreira.
Eles estão espalhados na cidade disputando a atenção com o tempo de cada pessoa. Passamos por alguns, às vezes sem notar. Esses são os músicos de rua e Jonatas Matheus, 20, é um deles. Nascido no Gama, hoje se dedica integralmente a tocar nos transportes públicos. Casado, viu na música uma oportunidade de fazer o que gosta e hoje sua renda é exclusiva do trabalho de rua que, segundo ele, mantém sua família.
O artista revela que, no início, nunca chegou a pensar em viver da música. Porém, após uma discussão com a mãe, foi parar em São Luís (MA) onde conheceu artistas que já desempenhavam esse trabalho. Ali, Matheus viu uma oportunidade. Viajou por vários estados do Brasil e até para outros países fazendo apresentações em coletivos e na rua. Ele destaca que tem um interesse maior por coletivos, devido à mobilidade que o transporte oferece.
Suas grandes influências na música, além de nomes como Cazuza, Legião Urbana e Raul Seixas, são artistas que conheceu ao longo de suas viagens. “Minha grande influência é um amigo de Pernambuco que já viajou para várias partes do mundo, como o Peru, Venezuela, Argentina e também os outros artistas de rua, como artesãos, malabaristas...”, destaca. O atual objetivo dele é conseguir juntar dinheiro para ir a Recife trabalhar na cidade e encontrar a pessoa que o incentivou no início.
Questionado sobre as dificuldades de viver somente da música, Matheus cita a falta de investimento em cultura e a banalização do artista. “O governo deveria apoiar mais, criar espaços para tocar em eventos públicos e regulamentar a profissão”, enfatiza.
O músico termina fazendo uma crítica à capital que, segundo ele, é um lugar onde poucos valorizam o trabalho do artista de rua. “Brasília é muito urbana, as pessoas estão aqui mais para trabalhar e a maior diversão é o shopping. Raramente um artista de rua é valorizado”, conclui.
Entrevista com Ricardo Anderson
Música: Paixão que supera obstáculos em busca de espaço
Ricardo Anderson é músico, tem 41 anos de idade e atualmente faz parte do projeto de música do Laboratório Sabin. Nascido em Minas Gerais, o morador de Águas Claras (DF) fala sobre a profissão:
Agência Brasiliar: Qual foi seu primeiro contato com a música?
Ricardo Anderson: Meu primeiro contato com a música aconteceu aos cinco anos de idade, num concurso de calouros ocorrido em Minas Gerais. Minha mãe teve a ideia de me inscrever e acabei inclusive ganhando o primeiro lugar.
AB: Como surgiu o interesse de fazer da música sua profissão?
RA: Sempre tive vontade, é algo muito forte na minha vida. A partir do momento que comecei a trabalhar no projeto de música do Sabin, encarei como profissão.
AB: Quais suas principais influências?
RA: Eu venho do rock, anos 80 principalmente. Titãs, Paralamas do Sucesso, U2, Pearl Jam foram algumas das bandas que me influenciaram. Com certeza, a melhor época do rock.
AB: Como você enxerga a música fazendo um panorama de décadas passadas até os dias de hoje?
RA: Vejo uma regressão, as músicas hoje têm pouco conteúdo, sentimento. Letras pobres, baixa qualidade. Música é mensagem e falta isso.
AB: Você vê no Brasil espaço e oportunidade para quem quer viver de música?
RA: Falta oportunidade, sem dúvida. Isso vem da nossa própria cultura, sem incentivo é complicado viver de música. Só se for um artista renomado ou que tenha condições financeiras de se manter.
AB: Que tipo de incentivo poderia ser dado para o surgimento e afirmação de novos talentos?
RA: Incentivo por parte do governo para que o músico pudesse estudar e melhorar se mantendo financeiramente, desde que se mostre a fim e comprometido com aquele objetivo.
AB: Deixe uma mensagem para as pessoas que, assim como você, têm e querem seguir esse sonho.
RA: Música é alma, sentimento. Se você realmente gosta, estude e se dedique para que possa melhorar cada vez mais. Não por dinheiro, mas sim por amor a profissão. Foi o que me manteve firme até hoje.
Entrevista com Milsinho
História e rotina de um artista musical das noites do Distrito Federal
A música brasiliense conta com vários ritmos. O público se torna cada vez mais eclético e, com isso, todos os estilos caem no gosto do morador do DF. Um dos preferidos é o samba, que sempre teve força no cenário musical. Um dos expoentes é Milsinho, que além de cantor é compositor, arranjador e produtor musical. Já atuou em teatro, portanto, também têm experiência como ator. Ele é de família carioca, mas nasceu em Taguatinga – DF. Com passagens em vários grupos –— entre eles Fundo de Quintal — é um artista tarimbado da música do Distrito Federal.
O cantor tem composições com artistas consagrados, como Xande de Pilares, Bruno Braga, Arlindo Neto, entre outros. Hoje, com seus shows semanais nas casas noturnas, continua levantando a bandeira do samba na capital federal.
O samba e o pagode estão entre os principais estilos musicais aderidos pelo público brasiliense e Milsinho sempre lota as casas de shows da cidade, além de ter bom reconhecimento em outros estados, como Goiás e Rio de Janeiro. Perguntado sobre os fãs que tem em Brasília, Milsinho diz: “Costumo falar que não tenho fãs, mas sim amigos. A importância desses amigos é imensa, não dá pra viver sem”, afirma. “Respeito demais meu público, às vezes quebro meu repertório pra atender pedidos”, conclui.
Seu disco, intitulado “É Deus Por Nós” foi gravado em 2011. Com produção de Lincoln de Lima — músico carioca com mais de 15 anos de experiência — o trabalho conta com vários artistas renomados do meio do samba e pagode, entre eles, os cantores Ferrugem e Dilsinho nos backing vocals.

Foto: Jonatas Mateus, por Bruno Medeiros

Foto: Ricardo Anderson, facebook do cantor.


Foto: Jonatas Mateus, por Bruno Medeiros